23 de fev. de 2016

As agulhas como armas da saúde


Vista antigamente como terapia alternativa, a acupuntura conquistou espaço e mostrou seu valor até mais além do tratamento de dores
Causava dúvida, uns bons anos atrás, quando uma pessoa se dispunha a ser picado por agulhas imensas e afiadas com o propósito de melhorar alguma questão de saúde. A prática da acupuntura ainda era cercada de incertezas tanto sobre a efetividade quanto sobre o medo de sentir dor em vez de tratar a dor.

Hoje em dia, porém, o uso dessa técnica milenar fundamentada na medicina chinesa é reconhecido e aceito por muito mais médicos e pacientes, inclusive já faz parte da rotina do Sistema Único de Saúde (SUS) – e vem avançando em áreas diversas, como no auxílio contra efeitos da quimioterapia, por exemplo, desde o pós-operatório às possíveis náuseas e vômitos do tratamento contra o câncer.


A acupuntura, em essência, envolve a inserção de agulhas extremamente finas através da pele em pontos estratégicos do corpo. A técnica é mais comumente usada para tratar a dor – ainda que a medicina tradicional na China explique a acupuntura como uma forma de equilibrar o fluxo de energia (conhecido como chi) que flui através de caminhos (meridianos) pelo organismo.

Com a inserção de agulhas em pontos específicos ao longo desses meridianos, os praticantes de acupuntura acreditam que seu fluxo de energia é reequilibrado – e sensações de dor e desconforto são atenuadas e mesmo curadas.

Atualmente, uma variedade de doenças e condições clínicas é tratada com a acupuntura (sendo foco principal ou auxiliar), com o encaminhamento de médicos de especialidades diversas.

Dores de cabeça, incluindo tensão e enxaqueca, têm muitos “gatilhos” diferentes; mas quase toda dor é aliviada com sessões de acupuntura. Mesmo aspectos da saúde feminina têm, nas agulhas, boas aliadas, desde o alívio da tensão pré-menstrual até a regularização dos ciclos.

“Há pacientes com dores e questões físicas com causas emocionais que se beneficiam muito da acupuntura, como quadros de gastrite, hipertensão, bruxismo [o ranger de dentes] e problemas de fertilidade”, explica o infectologista e acupunturista Marco Broitman.

Segundo o especialista, os riscos da acupuntura são baixos: o mais importante é procurar um profissional certificado para essa prática.  “Possíveis efeitos colaterais e complicações incluem alguma dor ou hematomas nos locais mais sensíveis às agulhas.”

Acupunturistas licenciados, é preciso saber, utilizam agulhas descartáveis e estéreis.

Raramente existem contraindicações para o uso da acupuntura. Apenas pessoas com distúrbios hemorrágicos ou doenças de pele muito graves, que impeçam o acesso aos pontos de aplicação, têm impedimento. Estar grávida também demanda um profissional especializado – porque alguns tipos de acupuntura estimulam o trabalho de parto, o que poderia resultar em um nascimento prematuro. Mas é justamente o grupo das gestantes que, hoje, mais se beneficia da acupuntura.

“Nesse caso, a técnica é usada para aliviar o desconforto do enjoo nos primeiros meses de gravidez e, mais adiante, para aliviar a sensação de azia e das dores lombares, muito comuns com o aumento do peso no abdômen”, afirma o acupunturista.

O estímulo ao nascimento do bebê pode mesmo ocorrer – e até ser uma técnica válida quando já se avança pelas 38 a 40 semanas de gestação e não há sinal do parto.

“Até mesmo em quadros leves de depressão e ansiedade, além da insônia, a acupuntura se mostra um tratamento eficiente”, acrescenta Marco Broitman.

O número e a periodicidade das sessões necessárias variam de acordo com cada paciente e a doença a ser tratada. Quadros mais agudos já podem mostrar melhora numa primeira aplicação; dores crônicas, por exemplo, podem pedir tratamentos mais prolongados.

“O importante é saber que, nas finas agulhas, os pacientes têm não só alternativa, mas uma arma poderosa para o bem-estar”, finaliza o especialista.

Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP



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