Vista antigamente como terapia alternativa, a acupuntura
conquistou espaço e mostrou seu valor até mais além do tratamento de dores
Causava dúvida, uns bons anos atrás, quando uma pessoa se
dispunha a ser picado por agulhas imensas e afiadas com o propósito de melhorar
alguma questão de saúde. A prática da acupuntura ainda era cercada de
incertezas tanto sobre a efetividade quanto sobre o medo de sentir dor em vez
de tratar a dor.
Hoje em dia, porém, o uso dessa técnica milenar
fundamentada na medicina chinesa é reconhecido e aceito por muito mais médicos
e pacientes, inclusive já faz parte da rotina do Sistema Único de Saúde (SUS) –
e vem avançando em áreas diversas, como no auxílio contra efeitos da
quimioterapia, por exemplo, desde o pós-operatório às possíveis náuseas e
vômitos do tratamento contra o câncer.
A acupuntura, em essência, envolve a inserção de agulhas
extremamente finas através da pele em pontos estratégicos do corpo. A técnica é
mais comumente usada para tratar a dor – ainda que a medicina tradicional na
China explique a acupuntura como uma forma de equilibrar o fluxo de energia (conhecido
como chi) que flui através de caminhos (meridianos) pelo organismo.
Com a inserção de agulhas em pontos específicos ao longo
desses meridianos, os praticantes de acupuntura acreditam que seu fluxo de
energia é reequilibrado – e sensações de dor e desconforto são atenuadas e
mesmo curadas.
Atualmente, uma variedade de doenças e condições clínicas
é tratada com a acupuntura (sendo foco principal ou auxiliar), com o
encaminhamento de médicos de especialidades diversas.
Dores de cabeça,
incluindo tensão e enxaqueca, têm
muitos “gatilhos” diferentes; mas quase toda dor é aliviada com sessões de
acupuntura. Mesmo aspectos da saúde feminina têm, nas agulhas, boas aliadas,
desde o alívio da tensão pré-menstrual
até a regularização dos ciclos.
“Há pacientes com dores e questões físicas com causas
emocionais que se beneficiam muito da acupuntura, como quadros de gastrite, hipertensão, bruxismo [o
ranger de dentes] e problemas de
fertilidade”, explica o infectologista e acupunturista Marco Broitman.
Segundo o especialista, os riscos da acupuntura são
baixos: o mais importante é procurar um profissional certificado para essa
prática. “Possíveis efeitos colaterais e
complicações incluem alguma dor ou hematomas nos locais mais sensíveis às
agulhas.”
Acupunturistas licenciados, é preciso saber, utilizam
agulhas descartáveis e estéreis.
Raramente existem contraindicações para o uso da
acupuntura. Apenas pessoas com distúrbios hemorrágicos ou doenças de pele muito
graves, que impeçam o acesso aos pontos de aplicação, têm impedimento. Estar
grávida também demanda um profissional especializado – porque alguns tipos de
acupuntura estimulam o trabalho de parto, o que poderia resultar em um
nascimento prematuro. Mas é justamente o
grupo das gestantes que, hoje, mais se beneficia da acupuntura.
“Nesse caso, a técnica é usada para aliviar o desconforto
do enjoo nos primeiros meses de gravidez e, mais adiante, para aliviar a
sensação de azia e das dores lombares, muito comuns com o aumento do peso no
abdômen”, afirma o acupunturista.
O estímulo ao nascimento do bebê pode mesmo ocorrer – e
até ser uma técnica válida quando já se avança pelas 38 a 40 semanas de
gestação e não há sinal do parto.
“Até mesmo em quadros leves de depressão e ansiedade,
além da insônia, a acupuntura se mostra um tratamento eficiente”, acrescenta
Marco Broitman.
O número e a periodicidade das sessões necessárias variam
de acordo com cada paciente e a doença a ser tratada. Quadros mais agudos já
podem mostrar melhora numa primeira aplicação; dores crônicas, por exemplo,
podem pedir tratamentos mais prolongados.
“O importante é saber que, nas finas agulhas, os
pacientes têm não só alternativa, mas uma arma poderosa para o bem-estar”,
finaliza o especialista.
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP