Apesar da Osteoartrose (OA) ser uma doença que atinge toda a
articulação (cartilagem, ligamentos, sinóvia e osso), a lesão inicial costuma
ser na cartilagem articular. A OA tem um forte componente genético e, na
maioria das vezes, tem a sobrecarga mecânica como um iniciador do processo de
lesão da cartilagem, que acaba evoluindo para um ciclo vicioso e inflamatório,
perpetuando a degeneração articular.
Tanto nos estágios iniciais quanto nos avançados, os
pacientes apresentam dor, rigidez matinal e edema na articulação acometida. Nos
estágios iniciais há o predomínio da dor com realização de movimentos, rigidez,
dor noturna e resposta satisfatória à medicação antiinflamatória. Nos estágios avançados,
ocorre instabilidade articular, predomínio da dor no repouso e ausência de
resposta à medicação antiinflamatória.
Suas localizações mais comuns são mãos, joelhos, quadris e
coluna vertebral. Várias medidas são preconizadas como tratamento: analgésicos,
antiinflamatórios, aplicação de gelo ou calor úmido, mudança de hábitos, uso de
bengalas e muletas, perda de peso, injeções de corticóides, fisioterapia e
terapias alternativas (como a acupuntura).
Estima-se que 4% da população brasileira apresentem osteoartrose
e o acometimento de joelhos é responsável por 37% dos casos. Quando a doença
acomete as articulações dos membros inferiores, é especialmente incapacitante
(VASCONCELOS, DIAS & DIAS, 2006).
Decorrente do desgaste das articulações, e que frequentemente
surge como parte do processo de envelhecimento, as dores no joelho afetam um
quarto das pessoas com mais de 55 anos e é severo o bastante para restringir as
atividades diárias pela metade.
Sua prevalência aumenta com a idade, sendo maior o número de
casos de osteoartrose de joelho em mulheres, diferente da osteoartrose de
quadril que tem maior incidência em homens (CAMARGOS, 2004; MARX et al., 2006).
Um recente estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS)
refere que a osteoartrose seria a quarta causa mais importante de incapacidade
entre mulheres e a oitava entre homens (MARX et al., 2006).
Método
O artigo foi desenvolvido através de uma revisão
bibliográfica descritiva, no qual foram utilizados livros, teses e artigos
científicos nacionais e internacionais, correspondentes de 1993 a 2009, nos
idiomas português e inglês. Embasado nos bancos de dados do Lilacs, Medline,
Bireme, BBC, NCCAM, Google, ScienceDirect, Faculdade de Saúde Pública,
Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),
livros da biblioteca do CBES, teses e artigos cedidos gentilmente pelo PhD.
Adrian White (Professor e Pesquisador do Departamento de Saúde da Península
Medical School – Inglaterra).
Dor Aguda x Dor Crônica
A dor é uma entidade sensorial múltipla que envolve aspectos
emocionais, sociais, culturais, ambientais e cognitivos.
No caso da dor aguda, que é comumente associada ao dano
tecidual, a percepção da sensação da dor atua como um sinal que induz a pessoa
a adotar comportamentos que objetivam afastar, diminuir ou abolir a causa da
dor. Já em contraste com a dor aguda, a dor crônica tem função biológica
diferente e associa-se a muita hiperatividade autonômica. Os doentes com dor
crônica geralmente, exibem sintomas neurovegetativos como alterações nos
padrões de sono, apetite, peso e libido, associados à irritabilidade,
alterações de energia, diminuição da capacidade de concentração, restrições nas
atividades familiares, profissionais e sociais (OLIVEIRA et al.,1997).
A analgesia é a ausência de dor em resposta a um estímulo
doloroso. Os responsáveis por bloquearem o sinal nociceptivo, sem alterar as
demais formas de sensibilidade, são chamados de opióides, estes se fixam aos
mesmos receptores que as endorfinas. Os opióides incluem: encefalinas,
dinorfinas e as B-encefalinas, que são classificados em opióides endógenos, por
serem substâncias endógenas de ocorrência natural, resultando na ativação de
mecanismos analgésicos (ROCHA et al., 2007).
Acupuntura
Segundo Vale (2006), a acupuntura foi o primeiro método
analgésico eficaz no tratamento da dor na história da Medicina. Utilizada há
mais de 3.000 anos na Medicina Tradicional Chinesa para tratamento de várias
doenças, surgiu da observação serendíptica de que os ferimentos à flecha nos
guerreiros cicatrizavam mais rápido do que os de espada ou porretes.
A prática de inserir agulhas em pontos específicos do corpo
aponta melhora da saúde e do bem-estar. A técnica da acupuntura tem sido
estudada cientificamente, envolvendo inserção de finas agulhas, sólidas e
metálicas que são inseridas no corpo e manipuladas pelas mãos ou por estímulo
elétrico. Recentemente, pesquisas científicas começaram a desvendar mais
possíveis mecanismos da acupuntura e potenciais benefícios, especialmente no
tratamento de condições dolorosas tal como a artrose (NCCAM – National Center
for Complementary and Alternative Medicine, 2004).
O efeito estimulatório da corrente elétrica tem seu lugar
cativo há muito tempo na eletroterapia ocidental. Nesse caso, os impulsos
elétricos são conduzidos por meio de eletrodos na pele de forma, duração e
frequência bem definidas. Essa forma de eletroterapia é largamente utilizada no
tratamento da dor, em pontos principais determinados, como “estimulação
transcutânea do nervo”.
Na acupuntura moderna, tais correntes de impulso são
transportadas para as agulhas espetadas.
Tratamento farmacológico
Um tipo de tratamento convencional para a OA é o uso de
medicamentos como os analgésicos. O paracetamol está no topo da lista de
medicamentos recomendados em diretrizes clínicas de osteoartrose (American
College of Rheumatology, 2002). A maioria dos trabalhos avaliados nessa
diretriz permitiu o tratamento de resgate com paracetamol. Entretanto, existem
poucos trabalhos clínicos bem conduzidos avaliando sua eficácia e efetividade
em osteoartrose de qualquer grau.
Glucosamina é um medicamento popular entre os pacientes com
OA, embora as evidências de sua eficácia não sejam consistentes. Estudos mais
profundos revelam que o uso da glucosamina não é superior ao placebo em relação
à dor e função, embora seu uso em particular tenha benefícios.
Tratamento com acupuntura
Deve-se analisar, primeiramente, que tipo de efeito pode-se
esperar com a acupuntura: aumento geral do limiar da dor (liberação de
endorfina); diminuição da dor no plano segmentar; melhora na circulação
sanguínea e regulação do meio celular; relaxamento muscular geral e local,
aumento dos espasmos musculares.
As indicações feitas pelo paciente sobre o ponto de dor,
tipo de dor e as causas que as provocam formam as bases do tratamento. Todos os
meridianos da região dolorosa podem ser afetados, mas em intensidades
distintas, de tal forma que, pode-se descobrir um “meridiano principalmente
afetado” (KITZINGER, 1996).
Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), os sinais e sintomas
da osteoartrose podem corresponder a vários padrões de desarmonia, mas os mais comuns
são as Síndromes Bi, causadas pelos ataques de agentes patogênicos externos:
Vento, Frio e Umidade.
Resultados
De acordo com a base de dados utilizada nesse artigo, os
resultados do tratamento alternativo de acupuntura em pacientes com
osteoartrose de joelho mostram-se eficazes, principalmente em relação à dor,
funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes.
A acupuntura é uma considerável opção de tratamento. Um dos
principais motivos que estimulam pacientes a procurar um tratamento
alternativo, é a insatisfação com os tratamentos convencionais disponíveis,
devido à sua ineficácia; e por intolerância a medicamentos. Segundo estudos
realizados na Inglaterra, atualmente a acupuntura é o tipo de tratamento
alternativo mais comumente utilizado como terapia complementar contra a dor no
mundo. (WHITE, 2007).
No tratamento, pode-se observar que a acupuntura leva a
analgesia através de efeito local, por produzir as mesmas características de um
processo inflamatório estimulando a liberação de substâncias que culminam na vasodilatação
sanguínea local e em seguida ao aumento de serotonina e células de defesa.
Efeitos medulares, impedindo a transmissão do impulso e a sequência de sinapses
até os centros superiores. E efeito cerebral ativando partes do cérebro como o
hipotálamo, responsável pela liberação de endorfinas.
Discussões e Conclusões
Relatório da Organização Mundial de Saúde (1978) reconhece o
método de agulhamento como uma prática médica eficaz. (VALE, 2006).
Estudos clínicos publicados no periódico inglês Acupuncture
in Medicine (2001), demonstraram a ação terapêutica da acupuntura na
osteoartrose. Acupuntura é um dos mais comumentes tratamentos alternativos
utilizados, é reconhecidamente um meio eficaz de tratar a osteoartrose,
apresentando a vantagem de ser destituída de efeitos colaterais.
Em conclusão, a OA do joelho é uma desordem comum que leva a
diminuição da funcionalidade, e em muitos casos os sintomas persistem por
muitos anos. Nenhuma terapia convencional é totalmente satisfatória.
Tratamentos convencionais não são muito efetivos e tratamentos efetivos não são
convencionais. A acupuntura como tratamento alternativo de OA de joelho deve
ser considerada. (WHITE, 2007).
De acordo com WHITE (2007), a acupuntura pode diminuir as
dores da osteoartrose de joelho.
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