Objetivo da IASP (International Association for the of Pain) de concentrar em 2008 a atenção da comunidade internacional sobre a dor na mulher leva ao tema da relação entre sexo, gênero e dor. Por isso, compreendemos a diferença biológica de seres humanos portadores. de dois cromossomos X e um cromossomo Y e X. Por gênero, compreendemos pessoal e social do ser masculino e feminino.
Idade e sexo são importantes. na expressão de dor ?
Há vários relatos de condições clinicas onde a idade influencia na expressão de dor no homem e na mulher (LeResche, 2006).
Dentre os exemplos dessa diferenças etárias citamos a cervicalgia, dores nos ombros, dores abdominais, cefaléia tensional, enxaqueca e disfunção têmporo- mandibular.
A cervicalgia e dor articular dos ombros incrementam-se com a idade ( 20 a 56 anos) de 10,8% para 26,8% nos homens e de 19% para 36,3% nas mulheres. Do mesmo modo, as dores articulares em geral crescem predominantemente nas mulheres após os 45 anos (Hasvold & Johnson, 1993). Por outro lado, dor abdominal contrariamente decresce, com a idade, continuando, entretanto, predominantemente nas mulheres ( Agreus ET AL. 1994).
As cefaléias tensionais e enxaquecas na fase adulta predominam nas mulheres e oferecem a vantagem de diminuir com a idade. A exceção é o fato de na infância haver leve predomínio de homens ( Scheer ET AL.,1999)
As disfunções têmporo- mandibulares têm prevalências semelhantes ás da enxaqueca (LeResche, 1997).
Da maneira geral, o risco de desenvolver dor é maior em mulheres do que em homens na fase adulta mediana, diminuindo essa diferença após os 45 anos idade, porém, há condições com o cistite intersticial, dor articular e fibromialgia que persistem por mais tempo ( Greenspan ET AL.,2007).
Fatores que influenciam as diferenças de sexo e gênero na experiência de dor.
Esses fatores incluem aspectos fisiológicos, perceptivos, sociais e comportamentais, além, e principalmente, dos fatores hormonais.
Os estudos de nocicepção são ainda inconclusivos porque a maioria se baseia em animais e a extrapolação é complexa. Porém, estudos de imagem e de resposta a analgésicos podem oferecer futuros subsídios acerca dessa questão ( Derbyshire ET AL.,2002).
A mulher tem maior capacidade perceptiva e seu limiar sensitivo é mais baixo que no homem ( Aloisi, 2000), o que poderia refletir-se na diferença dos sexos na percepção da dor, o que, entretanto, não tem sido confirmado de forma clara em estudo de laboratório
( Derbyshire ET AL.,2002), possivelmente por envolver fatores culturais ( LeResche, 1995).
Comportamentalmente, a mulher ocidental relata mais dor que o homem e procura mais freqüentemente as clinicas de dor do que o homem ( Robinson ET AL.,2001).
A influência da dor sobre o papel funcional social do homem e da mulher é também diverso, porém, o absenteísmo ocorre em maior instância em mulheres com cefaléia. No que diz respeito às lesões músculo- esqueléticas associadas à dor lombar, as mulheres demoram mais a retornar ao trabalho que os homens, possivelmente por seus outros papeis como domestica e mãe. Porém, ao retornar, permanecem mais tempo do que os homens ( Stewart ET AL.,2003).
Fatores Hormonais e dor
A maior prevalência da dor na mulher, em parte das condições clinicas, repousa em parte nas variações hormonais que ocorrem.
Estudos com adolescentes entre 11 e 17 anos revelaram crescimento do sintoma dor com o desenvolvimento da puberdade.
Por outro lado, em mulheres adultas o declínio ou flutuação dos níveis de estradiol tem relação com maior incidência de dor, enquanto que a elevação desses níveis é paralelo a um declínio da dor ( LeResche, 2006; Greenspan ET AL., 2008).Outros fatores
Cultura e raça também parecem interagir com gênero na experiência com dor , o que pode dever-se a mecanismo sócio- culturais e diferenças raciais( Myers ET AL.,2003).
Condições Clinicas
Algumas doenças dolorosas são mais prevalentes em mulheres do que em homens e vice- versa. Alguns exemplos estão mostrados na tabela abaixo.
Algumas condições clinicas dolorosas comuns mais prevalentes em mulheres e homens
Mulheres | Homens |
Enxaqueca com aura | Enxaqueca sem aura |
Cefaléia tensional crônica | Cefaléia em salvas |
Hemicrania continua ou paroxística | Cefaléia pós-traumática |
Neuragia do trigêmeo | Tumor de Pancoast |
Disfunção têmporo-mandibular | Tromboangeite obliterante |
Odontalgia atípica | Avulsão de plexo braquial |
Síndrome de ardência bucal | Doença pancreática |
Arterite temporal | Úlcera duodenal |
Síndrome do túnel do carpo | Neuralgia pós-herpética |
Fibromialgia | Espondilite anquilosante |
Esofagite de reflexo | Neuralgia parestética |
Síndrome do cólon irritável | |
Esclerose múltipla | |
Artrite reumatóide | |
Dor psicogênica | |
Colecistite | |
Constipação crônica | |
Porfiria intermitente aguda | |
Apud Greenspan et al. (2007)-resumido |
Analgesia em Mulheres e Homens
Outro aspecto de interesse recente importante é o efeito diverso de analgésicos em mulheres e homens. Por sua maior prevalência em dor, as mulheres utilizam mais comumente analgésicos. Algumas drogas como antiinflamatórios, serotoninérgicas e opióides têm sido objetivo de estudo comparativo entre mulheres e homens. Tais estudos têm apresentado dificuldades de desenho tais como o numero de participantes prevalecendo mulheres e as diferenças farmacogenética. Por exemplo, os opióides agonistas K parecem ser mais eficazes em mulheres (Holdcrft & Berkley, 2006).
Em conclusão, ao abordar o paciente com dor, dever-se-á atentar para diferença de sexo e gênero, a idade, os períodos mensais na mulher, e futuramente, o padrão genético para expressão de dor e efeitos de fármacos.
Dr. Carlos Maurício de Castro Costa
Prof. Titular de Neurofisiologia /UFC
Vice-Presidente da SBED
Prof. Titular de Neurofisiologia /UFC
Vice-Presidente da SBED