11 de out. de 2011

Origem, como funciona e para que é indicada

Em 1972, a China ainda era uma nação fechada para o mundo quando o então presidente americano Richard Nixon fez uma visita histórica ao país, acompanhado por um batalhão de jornalistas. Entre eles estava o repórter James Reston, correspondente do jornal The New York Times, que durante a visita teve a sorte de sofrer uma crise de apendicite e precisou ser operado de urgência. Sim, sorte. Tudo bem, ser operado em um país distante e desconhecido é dureza, ainda mais quando, em vez de analgésicos, os médicos resolvem tratar a dor espetando agulhas pelo corpo, durante a cirurgia e no pós-operatório. Mas se não fosse pela doença (que afinal apareceria de um jeito ou de outro) Reston não teria descolado a melhor história de sua viagem à China. O relato do misterioso tratamento ocupou a primeira página do jornal nova-iorquino e despertou a atenção de milhões de americanos para a acupuntura, que era pouco conhecida no Ocidente.
Mas isso foi no passado. Desde então, a ciência já estudou e comprovou a eficácia da terapia para diversos males e deu credibilidade à acupuntura. Só para se ter uma idéia, sua eficácia no tratamento de dor crônica é de 50% a 85%, comparável à de drogas potentes como a morfina, que dá certo em 70% dos casos. Com a vantagem de que as agulhinhas não são tóxicas e não causam dependência. No entanto, como tanta gente ainda fica com o cabelo espetado pela idéia de ser agulhado, vale a pena explicar o que é, de onde vem e para que serve esse negócio de cutucar o corpo com pontas aguçadas.
Uma longa história
Surgida há aproximadamente 5 mil anos na China, a acupuntura ("punção com agulhas", em latim) é um dos componentes da medicina tradicional chinesa, junto de tratamento com ervas, dieta alimentar equilibrada, prática de massagens (tuiná, do-in e shiatsu) e exercícios. "Os resultados da acupuntura são muito mais rápidos e intensos quando o paciente se submete a um tratamento global e muda seu estilo de vida, adotando uma alimentação saudável e aderindo à prática de exercícios", afirma o acupunturista chinês Yip Fu Kwan, fundador e vice-presidente da Associação de Medicina Chinesa e Acupuntura do Brasil (Ameca).
A medicina chinesa enxerga o corpo de uma maneira muito diferente dos ocidentais. Para começar, os chineses acreditam que o corpo (e o Universo todo) é regido pelos pólos opostos yin e yang, encontrados em todo ser vivo. Eles também crêem que há canais distribuídos ao longo do corpo, os meridianos, por onde circula a energia vital, chamada de chi (pronuncia-se "tchi"). Detalhe: esses canais são invisíveis, impalpáveis, o que dá uma idéia da diferença de sutileza entre as medicinas oriental e a ocidental. "Existem 14 meridianos principais, sendo que 12 estão relacionados aos órgãos internos e os outros dois correspondem às energias yin e yang", diz Kwan. Os 12 meridianos correspondentes aos órgãos têm simetria bilateral, sendo que seis (fígado, coração, baço, pulmão, rim e pericárdio - um tecido que envolve o coração) circulam pela frente do corpo e no interior de pernas e braços e os outros seis (vesícula biliar, intestino delgado, estômago, intestino grosso, bexiga e triplo aquecedor - sistema que, segundo os chineses, mantém a temperatura dos órgãos internos) correm nas costas e na parte externa dos membros. Os outros dois meridianos, yin e yang, localizam-se no centro do corpo, pela frente e por trás. "As doenças, segundo os orientais, têm origem no desequilíbrio da energia vital. A acupuntura tem como meta reequilibrar o fluxo energético por meio da aplicação de agulhas em pontos que estariam bloqueando os caminhos da energia", afirma o acupunturista Sérgio Areias, professor do Centro de Estudos de Acupuntura e Terapias Alternativas (Ceata), de São Paulo.
Desde que o apêndice do tal repórter americano entrou para a história (e mesmo antes, já que os europeus conhecem a técnica desde o século 17), os médicos de cá e de lá trocaram muitas experiências e se influenciaram mutuamente. No entanto, por mais sensata que soe essa história de enxergar o corpo como um todo e não um amontoado de peças, as faculdades de medicina do lado de cá continuam ensinando seus alunos a tratar das partes isoladamente. Mesmo médicos ocidentais que se renderam aos efeitos comprovados da acupuntura e adotaram as agulhinhas têm resistência a aceitar a teoria da energia vital. Para eles, os tais meridianos nada mais são do que áreas do sistema nervoso. Os acupontos seriam depressões com uma concentração maior de fibras nervosas. "Não sabemos quantos são os pontos de acupuntura ou depressões, mas estimamos que sejam mais de 2 mil espalhados pelo corpo", afirma o médico Ysao Yamamura, chefe do setor de medicina chinesa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Associação Médica Mundial de Acupuntura. Aos olhos do Ocidente, as agulhas estimulariam as terminações nervosas dos músculos, que enviariam sinais para o sistema nervoso central, liberando substâncias como serotonina (responsável pela sensação de bem-estar, tranqüilidade e sonolência), cortisol (um antiinflamatório natural) e endorfina (analgésico). A liberação de endorfina explica por que a acupuntura consegue resultados tão bons no tratamento da dor, seja ela crônica ou aguda.

Artigo publicado na Revista Vida Simple

Um comentário:

  1. Graciela gostei muito da descrição detalhada da acupuntura e de sua história. O seu artigo esta de parabéns.
    Sou professora de shiatsu e medicina chinesa em Toronto Canada e pratico acupuntura a 20 anos.
    Vamos manter contato. Guiomar Campbell, www.lotusartswellness.com,https://www.facebook.com/lotusartswellness/

    ResponderExcluir

Aglomera não!